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nota n.1 a céu aberto


Fazer a mala e esvaziar os ouvidos.

Rever faixas sonoras compostas para o espetáculo “volume morto” (2016) e durante as imersões com o Coletivo Liquida Ação até então. Reler anotações que contaminam aquele contexto.

Revisitar imagens e sons de meus trabalhos recentes ou que seguem em processo: Scordatura n.4, Pequeno Manual para um fenômeno atmosférico e Demarcações – objeto propositivo para uso comum do espaço. Cada um deles, à sua maneira, parece fomentar um reservatório de possíveis para os gestos que se apresentam como ideias iniciais da pesquisa por vir.

Há livros e escritos que estão latentes e que podem conectar-se às suspeitas de criação que meu imaginário começa a esboçar antes da partida: “A queda do céu” (Davi Kopenawa e Bruce Albert) e “Como se caísse devagar” (Annita Costa Malufe). Há um caderno de anotação, com pedaços de vontades, dúvidas e outros escapes do pensamento. Objetos, materialidades? Deixar que o lugar determine. Dentro da mala cabe, ainda, um cesto invisível para coleta de sons. Algo a ser praticado como uma deriva:

“O canto dos espíritos se sucedem um após o outro, sem trégua. Eles vão colhê-los nas árvores de línguas sábias no primeiro tempo, para que os xapiri possam ir lá buscar suas palavras. Param alí para coletar o coração de suas melodias (...). Os espíritos dos sabiás (...) são os primeiros a acumular esses cantos em grandes cestos (...) colhem-nos um a um, como objetos invisíveis, parecidos com os gravadores dos brancos”. [Davi Kopenawa]

Sair do Rio de Janeiro pelo ar, percorrer quilômetros pelos trilhos do trem da mineradora, estar durante vinte dias com os pés no chão de terra, areia e lama, demorar-me com o corpo, morar. Entre a nascente e a foz do Doce há outras margens. O horizonte aumenta, o campo se amplia, e o coração continua:

Ar. Terra. Árvore. Artéria.

Rede. Enredo. Renda. Teia. Balança.

[A ver como os encontros acontecem].


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