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AÇÕES FOZ AFORA DO RIO DOCE
CIRCULAÇÃO DA CAIXA D`ÁGUA
LOCAL:
Ruas da vila de Regência


HORÁRIOS:
17h quando aumenta o fluxo de pessoas nas ruas.
Desde quando a lama chegou, o abastecimento de água potável na Vila de Regência passou a ser feito por caminhões-pipas. A água, antes tirada do rio, agora é armazenada. Encontramos duas caixas 10.000 litros, oferecidas pela empresa Samarco: a primeira no pátio da creche escola e a segunda no porto de Regência. Ambas sempre estiveram vazias. A dimensão estética do enorme objeto redondo de plástico azul, associada ao simbolismo da caixa sem água, parada no tempo, nos atraiu. Entramos dentro da caixa parada no porto. Descobrimos que era possível movimentá- la andando dentro dela. A proposta de mover a caixa d’água do local onde ela estava há mais de um ano, para fazê-la passear na Vila, era uma forma direta de tirar as coisas do lugar. Mobilizar o que está parado poderia provocar outros movimentos nos moradores já acostumados com a presença da caixa vazia. Quando começamos a mexer na caixa, alguém veio nos avisar que ela tinha dono e que não podíamos utilizá-la sem autorização. Mas quem seria o dono desta enorme caixa aparentemente abandonada? Descobrimos que pertencia a Zé Sabino, um pescador famoso da Vila de Regência e fomos pedir permissão a ele. Quem nos recebeu foi sua esposa. Ela nos contou que Zé Sabino não tinha como transportar a caixa que ganhou da Empresa Samarco, por isso deixou-a no porto tanto tempo. Negociamos a entrega da caixa d’água na casa dele. A utilidade (não premeditada) da performance ampliou as questões sobre o acesso à água, situando o objeto como propriedade privada. O caráter político desta “aventura” de mover a caixa d’água mostrou a complexidade do ambiente social no qual o acesso à água passou a envolver relações de poder. No passeio com a caixa d’água pela vila também a sonorizamos, utilizando sua potência acústica para falar com os peixes: Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. O deslocamento da imensa caixa falante tornou novamente estranho o objeto vazio destinado ao armazenamento da água.
BIRUTAS AO VENTO
LOCAL:
Ruas da vila de Regência


HORÁRIOS:
Primeiro dia
16:30h sob o vento sul.

Segundo dia
16:00h sem o vento sul.

Terceiro dia
06:00h ao nascer do sol.
Na foz do Rio Doce a chegada do vento sul muda tudo. A temperatura esfria, os ossos doem e tudo sai do lugar. A ventania é forte e perturbadora. As pessoas se protegem dentro de suas casas. Os peixes fogem. O mar arrebenta em ondas. Os barcos não saem. Ouvimos falar deste vento perigoso antes de sentí-lo. Todos os moradores da vila nos alertaram sobre o vento sul. Até que finalmente chegou o famoso vento. Utilizamos a força do vento como fonte de energia. Abrimos sacos plásticos no local onde mais venta: o encontro do rio com o mar. A dança coletiva de nove pessoas segurando birutas de sacos plásticos foi movida pela energia eólica. O jogo de resistência e entrega dos corpos ao vento dava a dinâmicas das birutas de sinalização do vento que passa e também da lama que fica.
No segundo dia fizemos uma ação para vídeo. O saco plástico, produto industrializado derivado do petróleo, foi enterrado na areia para ser desenterrado e aberto ao vento. O corpo que desenterrou e abriu o plástico com a força do vento, depois entrou no saco engolido/expelido pela boca do rio. O corpo plastificado não tem contado com a água. A produção de plásticos envolve processos industriais que precisam de muita água. Lixo industrial continua sendo lançado no Rio Doce após o desastre-crime ambiental.
 
No terceiro dia fizemos uma celebração à boca do rio. Simples passagem das birutas ao sabor do vento. Ação para vídeo em plano sequência.
DANÇA EM PERFURAÇÕES DE PETRÓLEO
LOCAL:
Estrada de barro entre Regência e Areal.

HORÁRIOS:
05:30h antes do sol nascer.
A presença de cavalinhos mecânicos perfurando o solo para extração de petróleo é parte da paisagem arenosa. Desde os final dos anos 1970, as máquinas da Petrobras furam o chão dia e noite. A retirada de óleo e gás é conduzida por quilômetros de tubos que passam pela comunidade de Areal, de cerca de 200 moradores. São 40 famílias de origem indígena. A escala do corpo humano diante das imensas máquinas foi o ponto de partida dos movimentos. O contraste entre a energia que flui através do corpo e a repetição das máquinas inabaláveis deslocou o objeto cavalinho da paisagem. O movimento corporal humano, com sua singularidade e fragilidade, ao lado das grandes máquinas metálicas, impertubáveis e repetitivas, que sugam o sangue da terra, gerou uma imagem desestabilizadora.
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